sexta-feira, 30 de setembro de 2011

5 anos depois do acidente do voo Gol 1907, famílias lutam por punição mais rigorosa aos pilotos do Legacy

Apesar de condenados à prisão, pena dos norte-americanos foi revertida em prestação de serviços

Um dos maires acidentes da aviação brasileira completa cinco anos nesta quinta-feira. As marcas da tragédia ficarão para sempre nas famílias das 154 vítimas. Em 29 de setembro de 2006, o voo 1907 da Gol (que fazia a rota Manaus/Brasília/Rio) colidiu em pleno ar contra um jato Legacy, que ia de Brasília para Manaus e depois seria vendido para uma empresa americana. O jato conseguiu pousar e todos saíram ilesos. O Boeing despencou em uma área de densa floresta amazônica na Serra do Cachimdo, em Mato Grosso. Ninguém sobreviveu.

A investigação apontou que o Legacy voava na contramão de uma aerovia e não seguiu corretamente o plano de voo. Houve falha na comunicação entre controladores de voo e pilotos do jato, já que o transponder (que identifica a posição no deslocamento das aeronaves) estava desligado. Em vez de modificar a altitude durante o trajeto, o Legacy permaneceu o tempo todo a 37 mil pés, a mesma altitude que havia sido solicitada pelo piloto do Boeing da Gol.

A Associação de Familiares e Amigos do Voo 1907 não acredita em culpa dos controladores e cinco anos depois ainda luta por uma punição mais rigorosa aos pilotos do Legacy. O processo criminal contra os dois está em andamento no Tribunal Regional Federal (TRF), em Brasília, órgão que está julgando o caso em segunda instância. Na primeira instância, o juiz federal Murilo Mendes, da cidade de Sinop (MT), declarou os réus culpados e os condenou a quatro anos e quatro meses de prisão no regime semiaberto. A pena, no entanto, pode ser revertida para prestação de serviços comunitários em uma entidade brasileira nos Estados Unidos.

Em defesa de interesses dos familiares das vítimas, o advogado gaúcho Cezar Bitencourt explica que a associação entrou com apelação para rever a decisão.

— Pela gravidade do que ocorreu, essa pena não deveria de forma alguma ser substituída. Não pode ser considerado um crime culposo (sem a intenção de matar). A nossa luta é para que a pena de prisão seja mantida. Entramos com a apelação e esperamos que, pela importância desse caso, a Justiça tenha mais atenção e consiga julgar isso ainda no primeiro semestre de 2012 — explicou Bitencourt — Além disso, queremos que eles sejam impedidos de pilotar em espaço brasileiro — resumiu o advogado.

A gaúcha Rosane Gutjahr, 53 anos, é diretora da Associação. Ela perdeu o marido Rolf no acidente e já negou indenizações na luta pelo que considera uma causa maior.

— Dez dias após o acidente, um advogado da Gol ofereceu R$ 400 mil de indenização. A minha filha tinha quatro anos na época e o corpo do meu marido Rolf sequer havia sido localizado. A reunião não durou cinco minutos e eu neguei a indenização. Cerca de um ano e meio depois, um advogado de uma seguradora dos Estados Unidos também ofereceu indenização, mas eu não quero dinheiro. A nossa luta é pela prisão dos pilotos — relatou Rosane — Nós não podemos aceitar que a impunidade de quem provocou essa tragédia se torne precedente para que outros acidentes fiquem impunes — concluiu.

A associação não se envolve com processos de indenização e afirma que são de total responsabilidade de cada família com a empresa Gol. Apesar disso, uma estimativa da entidade aponta que cerca de 150 famílias já realizaram acordos e receberam indenizações da companhia aérea.

Segurança no espaço aéreo brasileiro:
Passados cinco anos da tragédia, o número de voos no Brasil cresceu 37,5% (sem contar voos militares), segundo dados da Infraero. Já o efetivo de controladores de tráfego aéreo conta apenas com 6,5% a mais. São aproximadamente 3,3 mil funcionários, contra cerca de 3,1 mil em 2006. Os dados são da Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta) e Sindicato Nacional dos Aeronautas.

Para a Febracta, o aumento no controle de tráfego não acompanha o crescimento da aviação civil no país. Além disso, a federação contesta o número de controladores divulgado pela Força Aérea Brasileira (FAB), que garante ter cerca de 4,1 mil profissionais em atuação.

— Neste montante estão contabilizados militares que trabalham com a Defesa Aérea, e não com a aviação civil — afirmou Moisés Almeida, presidente da Febracta.

Para 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, a meta da Força Aérea Brasileira é chegar a 5 mil controladores no país. A FAB defende que o número atual de profissionais na área é suficiente para a segurança da aviação. Além disso, garante que está utilizando tecnologia avançada para aliviar a atividade dos controladores de voo e aprimorar o monitoramento do espaço aéreo.

Lembre outras tragédias da aviação brasileira:
— 8 de julho de 1982 — Voo da Vasp 168 ia para Fortaleza e bateu na Serra da Aratanha, perto de Pacatuba, no Ceará. Morreram os 137 ocupantes do Boeing.

— 17 de julho de 2007 — Airbus que fazia o voo 3054 da Tam saiu de Porto Alegre para São Paulo, onde ultrapassou o final da pista e bateu em um depósito. Somando os ocupantes do avião e vítimas que estavam no solo, morreram 199 pessoas.

— 31 de maio / 1º de junho de 2009 — Voo Air France 447 ia do Rio de Janeiro para Paris (França). O Airbus caiu no Oceano Atlântico e provocou a morte de 228 pessoas.

Fonte: Zero Hora

Um comentário:

  1. Não concordo com a proibição dos pilotos americanos em pilotar novamente no Brasil. Eles são humanos e erraram. Mas acredito que eles não fariam isso novamente e prestariam mais atenção da próxima vez. Eles não tiveram a intenção de causar o acidente. Eles não são inocentes nesse caso mas o que adiantaria puni-los por algo que já aconteçeu e foi um imprevisto, um acidente causado por uma falha humana? Agora que já aconteceu já era, esqueçam tentar continuar os processos contra eles. Eu entendo a dor das familias ao perderem seus familiares, mas acidente é acidente. Isso pode acontecer com qualquer um.

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