sábado, 11 de junho de 2011

Obras para a Copa estão atrasadas em todas as cidades-sede

Faltam três anos e muitas obras para que o Brasil receba a Copa do Mundo. Em junho de 2014, o País terá em seus estádios os melhores jogadores de futebol do planeta e, nos seus aeroportos e avenidas, milhares de turistas de todas as partes do mundo que precisarão viajar, ir de ônibus ou metrô aos estádios, encontrar lugares para se hospedar e funcionários fluentes em espanhol ou inglês para guiá-los.

O iG foi às 12 cidades que devem receber os jogos e analisou cinco itens dos preparativos para a Copa: a construção ou reforma dos estádios, a capacidade da rede de hotéis, as obras de transporte público, a ampliação e modernização de aeroportos e o treinamento de mão-de-obra para receber os visitantes. O resultado é preocupante: apenas duas cidades já tiraram do papel todos os projetos previstos. Apesar disso, os cronogramas de Porto Alegre e Recife estão atrasados em itens como recursos humanos e aeroportos.


Já Cuiabá, Manaus e Natal estão para trás. Nas capitais, os projetos para melhorar o transporte público mal saíram do papel, a rede hoteleira é insuficiente e falta gente qualificada e cursos para capacitá-las. Porém, estas cidades não são as únicas responsáveis pelo sinal de alerta. Cada município tem uma deficiência grave para resolver e todos têm, pelo menos, um item atrasado. Os aeroportos, por exemplo, são o caso mais grave – quase nenhuma obra saiu do papel nas 12 cidades-sede dos jogos.

Critérios

Cada cidade-sede estabeleceu sua própria meta de projetos e obras para a Copa. Isso cria alguns problemas para compará-las. Por exemplo: se uma capital afirma que precisa treinar 100.000 pessoas e só treinou 30.000 e outra afirma que precisa treinar 1.000 e já treinou 7.000, a segunda cidade, percentualmente, está mais avançada do que a primeira. Isso acontece porque cada cidade ainda não sabe quantos jogos vai receber nem quantas seleções vai hospedar - e, consequentemente, quantas pessoas vão passar pelo município. São Paulo, Rio e Brasília, cidades cotadas para receber o jogo de abertura e a final da Copa, precisam de mais guias turísticos do que capitais que só devem receber jogos da primeira fase do torneio, como é o caso de Manaus, por exemplo.

Outra questão é o fato de algumas obras estarem muito adiantadas em algumas capitais, muito mais do que nas outras, mas ainda contar com alguns itens fundamentais no papel. Curitiba tem 70% do seu estádio pronto e já tem capacidade suficiente, nos hotéis, para receber turistas. Porém, as obras do aeroporto e de transporte público ainda estão na estaca zero. Embora Porto Alegre e Recife não estejam com as obras tão avançadas nestes critérios, as duas cidades se destacam por conseguir avançar em todos os itens fundamentais para o torneio. No conjunto, estão mais equilibradas do que as outras - embora, para o seu próprio cronograma, esteja atrasadas.Cada cidade tem diferentes patamares de exigências em relação ao que é necessário fazer para receber a Copa - mas o mundial só vai acontecer se todas as obras fundamentais se tornarem realidade.

De cidade em cidade

Começando pelo Sul do País, em Porto Alegre os principais problemas são as obras de transporte público - a maioria ainda está no papel - e o estádio do Beira Rio, do Internacional, que enfrenta problemas para conseguir recursos para a sua reforma. “Sem dormir em berço esplêndido, estamos com o calendário muito corrido, mas adequado”, afirma o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, sobre as obras que cabem ao município. "Reconheço que allgumas coisas estão muito incipientes, mas vamos acelerar”, afirma o prefeito.

Em Curitiba, a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, enfrenta o mesmo problema – o orçamento estourou e ninguém sabe quem vai pagar a conta. A capital do Paraná também precisa solucionar outro problema: a falta de táxis entre o aeroporto e a cidade e, claro, dentro da própria capital. Do aeroporto até Curitiba são 75 táxis com licença para operar no aeroporto Afonso Pena. Dentro do município, a questão é ainda mais complicada: o número de táxis é o mesmo desde a década de 1970.

No Sudeste, no estádio do Corinthians, em São Paulo, as obras de terraplanagem mal começaram e ainda não se sabe quem vai retirar os dutos da Petrobras que passam embaixo do terreno. Por conta disso, a cidade ficou fora da Copa das Confederações, prévia do mundial, em 2013.

O Rio de Janeiro está atrasado em relação à ampliação do seu transporte público e a preparação de mão-de-obra. O maior investimento estão nas obras na ampliação do metrô da capital, que também devem servir para as Olimpíadas de 2016. Já o Maracanã, que deve receber a final do mundial, está com o orçamento estourado: estima-se que a reforma não vai sair por menos de R$ 1 bilhão, com algumas mudanças recentes no projeto, como a cobertura do estádio.

Em Belo Horizonte, a ampliação do aeroporto de Confins é o principal gargalo porque nem saiu do papel, com idas e vindas na Justiça. Para o presidente da Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas), Roberto Fagundes, “mesmo se as obras forem concluídas em tempo hábil, já estarão defasadas". Já para o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SINDHORB), Paulo Pedrosa, "Confins está um caos e as obras estão em ritmo lento", completa.


No Centro-Oeste, a capital de Mato Grosso, Cuiabá, também sofre com o aeroporto, que conta com esteiras improvisadas para o recolhimento de bagagem, por exemplo. A precariedade é tamanha que o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) estimou que, no atual ritmo, as obras só ficariam prontas em sete anos. Além disso, o governo ainda não definiu como ampliar a oferta de ônibus na cidade nem começou a preparar seus guias turísticos. Em Brasília, o estádio está no prazo, mas falta capacitação de pessoal, obras no aeroporto e transporte público.

Na região Norte, em Manaus, transporte também é o problema – a prefeitura não tem dinheiro suficiente para bancar a ampliação e pediu financiamento. “Estamos respondendo às dúvidas que estão sendo levantadas pela Caixa Econômica. Não podemos começar a obra sem ter a garantia de aprovação do projeto e do financiamento”, justifica o coordenador da Unidade Gestora do Projeto Copa (UGP Copa), Miguel Capobiango. O aumento das vagas de hotéis também acendeu o sinal amarelo porque a cidade não sabe se a sua meta para ampliar a rede de hotéis dará conta da demanda. Hoje, ela tem 4,2 mil quartos e pretende dobrar para 8 mil quartos – tudo vai depender de quais seleções jogarem na cidade, justifica a prefeitura.

No Nordeste, Recife sai na frente. Com exceção dos aeroportos, todas as obras estão no prazo. O secretário extraordinário interino da Copa no Estado, Sílvio Bompastor, afirma que “investimentos que só seriam realizados em 20 anos serão feitos em três anos em decorrência da Copa”.

Por outro lado, Natal tem a situação mais preocupante na região. Ainda não está definido nem quando as obras para o estádio vão começar nem quantas vagas de hotéis precisam ser criadas ou quantas pessoas devem ser treinadas. Todas as obras para o transporte público tiveram seus prazos estourados. O procurador-geral do Estado, Miguel Josino, afirma que, devido aos atrasos nos preparativos da Copa, o Estado já chegou a perder recursos do governo federal para aplicação no município. Segundo ele, esses problemas são causados sobretudo por conta da falta de ação coordenada entre a gestão anterior e a nova do governo estadual, de partidos diferentes.

No bloco do meio, o estádio da Fonte Nova, em Salvador, está cumprindo todas as metas do cronograma, mas as obras de transporte público ainda são uma incógnita – não se sabe em que o Estado e a prefeitura vão investir para melhorar a locomoção. “Salvador é caótica em mobilidade urbana. São 130 km de pontos de estrangulamento”, afirma Jonas Dantas, presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) da Bahia. Sobre qualificação de pessoal, o Estado conta com o apoio das empresas. “Se o mercado não entrar junto nisso, o Estado sozinho não tem braços para alcançar", afirma o secretário Ney Campello, responsável por assuntos da Copa no governo de Jaques Wagner. Fortaleza, no Ceará, tem a mesma situação. O estádio do Castelão está no prazo, mas como as pessoas vão chegar nele, não se sabe.

No balanço, sobra a interrogação de como o Brasil vai resolver em três anos atrasos acumulados desde 2007, quando foi escolhido para sediar o mundial do seu esporte favorito. Não à toa, o sinal amarelo já acendeu no Planalto: a presidenta Dilma Rousseff tem feito reuniões com prefeitos e governadores e tenta aprovar no Congresso uma série de medidas para que o País consiga cumprir as metas às quais se propôs quando foi escolhido para o sediar o evento - que tem sonhando organizar desde 1950, quando recebeu a Copa do Mundo pela última vez.

Fonte: IG

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